segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cólicas - Parte I


O PRIMEIRO TESTE

As cólicas são uma prova de fogo, uma espécie de teste, um curso intensivo para o coração de qualquer pai e de qualquer mãe. Você nem teve ainda tempo de conhecer o seu bebê e elas resolvem entrar – com toda a força – na rotina da casa. Chegam ao final da tarde, mas podem se estender noite adentro, tirando o restinho de sono picado a que se tem direito nessa fase. Fazem o seu bebê chorar, muito, alto e com desespero. Impedem-no de dormir, provocam contorções naquele ser pequenininho e indefeso. E ele fica ali, abrindo o berreiro, com a mãozinha fechada e expressão de sofrimento. E você? Pega no colo, acarinha, canta, balança. Faz um enorme esforço para manter o controle.

Nós sabemos quanto essa fase pode ser complicada. Aqui você receberá conselhos úteis e respostas às perguntas mais comuns. As cólicas tem data certa para terminarem, aos 3 meses vão embora. E isso não é conversa de pediatra!

SERÁ QUE É CÓLICA?

É fim de tarde e seu filho chora sem parar. E, como em todos os dias, no mesmo horário, você já checou a fralda, amamentou, agasalhou ou tirou o excesso de roupa. De nada adiantou. O choro continua intenso, mas de repente pára. Você respira aliviada. E quando menos espera, começa tudo de novo. Cada vez mais estridente.

Quem já passou pela situação sabe: é uma cena típica de um recém-nascido sofrendo com as famosas e temidas cólicas. Esses são os sinais mais comuns da dor abdominal que atinge 75% dos bebês nos primeiros três meses de vida, geralmente no início da tarde ou durante a noite. Sempre no mesmo horário.

Por isso tenha em mente a palavra “paciência”. Encare essa fase como um treino que vai prepará-lo para ter uma relação tranqüila com seu filho no futuro. Em meio a tudo isso, um outro alento. As cólicas não estão associadas a nenhuma doença, são um mero problema fisiológico, comum em recém-nascidos.

E se não for cólica? Em apenas 5% dos casos, os sintomas apresentados pelo recém-nascido escondem alguma doença. Quando o choro da criança é motivado por outra dor, a causa pode ser variada. A mãe deve observar as reações da criança: o choro tem hora marcada? Pára quando está no colo? Há melhora quando ela é colocada de bruços ou quando a barriguinha é aquecida? Massagem resolve? Se as respostas forem não, vale procurar o pediatra. Somente ele poderá avaliar o quadro e dar um diagnóstico correto. Veja algumas possibilidades que os médicos destacam:

· Refluxo gastroesofágico – o leite materno chega até o estômago e volta para a boca antes de completar a digestão. Essa movimentação anormal causa dor.

· Infecção do trato urinário – qualquer anormalidade nessa região provoca bastante dor.

· Hérnia – problema mais comum nos meninos.

SINAIS DE CÓLICAS

  • O bebê chora sem parar.
  • Ele se contorce e flexiona as perninhas em direção ao abdome.
  • A barriga fica endurecida.
  • A criança solta gases.
  • O rosto fica avermelhado.
  • As mãos ficam com os punhos fechados.
  • A expressão do rosto é de sofrimento.

“Calma! São só três meses!”

Com voz suave e uma tranqüilidade que nesse momento parece absurda, o pediatra diz: “Depois do terceiro mês, passa”. Para quem vê o filho desesperado o consolo não resolve. Ao contrário, fica-se com uma dúvida no ar: “Como eu sobrevivo até lá?”

As cólicas intestinais têm hora para começar e terminar. O problema é que o sentimento dos pais influencia – e muito – a vida do bebê. Se eles ficarem nervosos e inseguros, passam esses sentimentos ao bebê que, por sua vez, fica ainda mais aflito. Dependendo do comportamento dos pais as cólicas podem piorar, sim.

Os pediatras são unânimes: o comportamento da criança é um reflexo do meio em que vive. Alguns profissionais constatam em suas clínicas que a cólica é um mal que acomete, majoritariamente, os primeiros filhos. A inexperiência dos pais seria um dos motivos mais fortes para a incidência do problema.

Vozes suaves, ambiente calmo e segurança podem não livrar o bebê das temidas cólicas, mas o ajudarão a superá-las com maior tranqüilidade.

Parece pedir muito? Talvez seja mesmo. Mas ter um filho é um exercício diário de paciência. Você precisa aprender a lidar com as emoções para protegê-lo. E lembre-se: vai passar.

CINCO DICAS PARA OS PAIS ANTES DO Buááááááá!

1. Cerca de meia hora antes do início da choradeira diária, tente relaxar e tomar um banho morno.

2. Acenda uma luz bem suave e pense que essa fase é transitória e que não é só o seu filho que sofre com as cólicas.

3. Escolha uma música tranqüila para ouvir e relaxar.

4. Aos primeiros sinais do choro, tente manter a calma.

5. Passe serenidade e segurança para o seu filho com muito carinho.

Afinal que dor é essa?

Parecer, parece. Basta olhar os pezinhos, as orelhinhas, o narizinho perfeito. MS o bebê não nasce totalmente pronto. O sistema digestivo de um recém-nascido ainda é imaturo, até por falta de experiência. Quando está na barriga da mãe, ele se alimenta pelo cordão umbilical e não tem que digerir os alimentos. É como se recebesse tudo mastigadinho pela mãe.

Eis que, de repente, acaba a folga. O bebê passa a se alimentar do leite materno. E aí surgem diversos aprendizados que ele precisa adquirir com rapidez: mamar corretamente, arrotar, liberar os gases, fazer xixi e cocô.

Nem todas essas novas funções, no entanto, são executadas perfeitamente no início. A cada mamada, ocorrem movimentos descoordenados de contração e relaxamento nos intestinos, que provocam dor. O mau funcionamento da engrenagem também leva aos gases, à prisão de ventre e conseqüentemente às temidas cólicas. Junte a tudo outra imaturidade: a do sistema nervoso central – ainda com dificuldades de comandar os órgãos do corpo, até mesmo os intestinos. E tem-se um bebê em pânico. A falta de experiência é tamanha que o cérebro não consegue enviar os sinais necessários para avisar que a dor já passou. Muitas vezes, o chororô continua apenas por essa falta de comunicação.

As cólicas aparecem em geral na segunda semana após o nascimento e o ápice das crises ocorre no segundo mês. O problema surge justamente poucos dias depois que os pais acabaram de voltar da maternidade, sem o aparato de pediatras e enfermeiras do berçário. Daí, o desespero materno e paterno, e por que não?, de avós, tios e de todo o resto da família.

Cólicas: hora para começar e acabar

Esse mal-estar dura em média três meses. Tempo que o organismo do bebê leva para amadurecer o mecanismo da digestão.

Faz sentido. Aos 3 meses, o bebê completa um clico de 12 meses desde a fecundação, ou seja, 1 ano de vida, se contarmos a vida intra-uterina. Ele deixa de ser um “RN”, como são conhecidos os recém-nascidos. É por isso que no quarto mês, cérebro e intestinos já se entendem melhor e as cólicas deixam de ocorrer.

(Continua...)



FONTE: Coleção Crescer. Consultoria: Mário Taralli, pediatra do Hospital Albert Einstein; Ana Maria Escobar, pediatra do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP; Vera Lúcia Sdepanian, gastropediatra da Universidade Federal de São Paulo; Dalva Darin, enfermeira obstétrica do Hospital Albert Eisntein; e Maria Cristina Pires Nolasco, enfermeira perinatologista do Albert Eisntein.

Nenhum comentário:

Postar um comentário